sexta-feira, 19 de junho de 2009

Uma reflexão

Olá meus amigos, tudo bem? Depois de uma sumida, a saudade desse blog me fez hoje deixar aqui uma reflexão do cardeal José Saraiva Martins, no contexto da semana da oração pela unidade dos cristãos (ano 2003). Um texto um pouco antigo, mas muito atual, pois a busca da unidade em Deus sempre será um desafio e uma vontade que transporá todos os tempos.

Frente a todas as dificuldades dos tempos que vivemos, creio que um dos antídotos para os problemas da humanidade seja a busca pelo ecumenismo verdadeiro. O cardeal vê
o ecumenismo não como um acessório, uma questão mais ou menos importante, mas um dever urgente de todos os cristãos. Antes de deixar este mundo, Jesus pediu ao Pai "que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti" (Jo 17, 21). A unidade pedida por Cristo para os seus discípulos constitui uma participação na unidade existente entre o Pai e o Filho: "Como Tu estás em mim e Eu em ti"; uma reprodução ou, se quisermos, um reflexo visível da própria unidade trinitária. É por esta unidade do seu Corpo místico que Cristo se oferece a si mesmo "em sacrifício" (cf. Jo 13, 1).

Devemos realçar o fato de que Jesus pede o dom da unidade não só para os discípulos que se sentam à mesa com Ele, para celebrar a Páscoa, mas "também para todos os que acreditarem em mim, depois de terem escutado a sua palavra" (Jo 17, 20) e, mediante o batismo, formarem ao longo dos séculos o seu Corpo terrestre, que é a Igreja. Ele deu a sua vida por eles e por todos. Com efeito, morreu para "reunir os filhos dispersos" (Jo 11, 52). E estes filhos dispersos eu entendia como sendo todos os descrentes da graça do Pai, mas hoje passo a acreditar que somos os primeiros a nos incluir neste rebanho (católicos e protestantes), visto que o rebanho é disperso, havendo a necessidade para o cristão de acolher, respeitar e amar aquilo que lhe é diferente, assim como Jesus fazia com todos.


Isto não se trata de uma proposta utópica de unir os diferentes, de acordo com o cardeal, o compromisso ecumênico é uma tarefa irrenunciável, que pertence a todos os batizados. Obviamente, cada um segundo o papel, o carisma e a competência que lhe são próprios.


“Senhor, tomai conta de nossas atitudes e nos dê coerência em nossas ações. Que a busca do semelhante entre católicos e protestantes seja uma fonte viva do teu evangelho e uma forma de nos voltarmos para este mundo de tantos problemas e desilusões. A evangelização necessita da unidade, e que ela seja mais real no dia de hoje com a Tua benção sobre todos os protestantes que levam o amor a lugares que nós católicos não temos acesso, e que o mesmo aconteça conosco, pois assim tenho fé de que o desejo de amor trazido por Jesus possui mais sentido.”


Nos guarde neste caminho


Amém

terça-feira, 24 de março de 2009

Perdendo a identidade? (continuação...)

Resolvi continuar este post pra tentar esclarecer um pouco mais essa questão da identidade nos grupos cristãos. Sinto que por conta de estar muito próximo dos meus sentimentos e pensamentos do fim de semana, meu texto ficou mais emotivo do que explicativo, e vou tentar outra vez…

Compreendo o comentário da Glauce quando ela explica que muitas vezes usa o argumento da identidade católica não como uma coisa negativa, mas como uma forma de dizer que somos diferentes, temos um jeito próprio de rezar, e temos doutrinas diferentes… isso está muito certo! O meu objetivo não é desprezar ou minimizar as nossas diferenças, pelo contrário, quero exaltá-las, mas de uma forma extremamente positiva. Me lembro das palavras de João Paulo II:

Por que o Espírito Santo permitiu todas estas divisões?”, mesmo admitindo que um dos fatores pode ter sido os nossos pecados, digo assim: “Não poderia ser também que as divisões tenham sido um caminho que levou e leva a Igreja a descobrir as múltiplas riquezas contidas no Evangelho de Cristo e na redenção operada por Cristo? Talvez tais riquezas não pudessem vir à luz de maneira diferente…


Estudando o conceito de identidade nas ciências sociais, encontrei uma definição que me chamou a atenção. A identidade de um individuo é construída a partir de uma oposição simbólica. Isso quer dizer que muitas vezes sabemos mais do que não somos, do que o que realmente somos. Nos identificamos, enquanto grupos sociais, a partir da negação de outros grupos. Por exemplo, se me perguntam o que é ser urbano, eu logo penso na negação do rural. Mas o que de fato é ser urbano e o que de fato é ser rural é bem complexo, e por isso merece um estudo científico.

Fico pensando que no meio cristão carregamos conosco essa “mania” de nos identificar a partir da negação do outro. “O que é ser católico?, alguém pode dizer: “É não ser evangélico!”. Sei que a resposta está muito incompleta, mas é bem isso que acontece no nosso dia a dia. Não questionamos as respostas que obtemos por aí. Vamos guardando, juntando um emaranhado de coisas que depois nem sabemos pra que servem.

Somos diferentes sim! Católicos, Evangélicos, Pequena Via, Pastorais, RCC, Protestantes… Mas acredito que a construção da nossa verdadeira identidade depende da nossa abertura ao relacionamento com o diferente. Não somos grupos que estão em disputa e precisam demarcar um território. Somos grupos que se complementam e que fazem parte do mesmo Corpo. Sinto que quando me perguntarem sobre a minha identidade no Corpo será muito pouco se eu responder que sou “Pequena Via”, por exemplo. Posso lembrar das palavras do meu amigo Thiago quando falava que, através dos irmãos de comunidade, ele se sentia cantor, pintor, do social mesmo não “sendo” nada disso!

E aí, qual é minha identidade enquanto cristão? Seguindo a linha de raciocínio do Thiago, eu não poderei dizer que sou evangélico, mesmo sendo católico?

Gostaria de deixar claro que sei bem da realidade do povo de Deus. É um povo ferido, marcado com as manchas das divisões ocorridas no passado. Sei do medo desse povo, sei do mundo representado na cabeça de cada um para se auto-legitimarem na sua identidade católica ou evangélica, ou de algum grupo específico na Igreja.

A minha tentativa com esses questionamentos é de contribuir para uma base filosófica e teológica mais acessível e mais sólida no que se refere à unidade cristã, ou ecumenismo. Com a ajuda da minha amiga Glauce posso concluir que o que não concordo e acho que merece questionamento é o termo identidade ser usado para justificar o nosso medo ou fechamento em nos relacionar! Lembro novamente da frase que tenho ouvido e que me levou a este questinoamento:“Precisamos fortalecer nossa identidade para nos relacionar com o diferente!”

Mesmo com as limitações das palavras e da minha capacidade de usá-las espero ter me feito entendido! Que o Senhor nos instrua no amor e na unidade! Sempre…

Perdendo a identidade?

É no mínimo interessante como criamos jargões e os assumimos com força de verdade absoluta em nossas vidas!

Nessa caminhada rumo à unidade cristã eu sempre encontro pessoas que me dizem: “Precisamos nos relacionar com os cristãos de outras denominações, mas não podemos perder nossa identidade!”. É claro, eu sempre concordo com eles quando não sou eu que digo essa frase antes deles.

Nesse ultimo fim de semana a Palavra de Deus me levou a questionar esse jargão que já estava enraizado, me levou a quebrar certas estruturas em favor do outro, diferente, tão filho de Deus quanto eu!

“Ele tinha condição divina e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Fil 2, 6-7)

De fato tenho uma identidade gravada no meu íntimo mais íntimo. Outro fato é que não posso me referir a essa identidade como sendo católica, evangélica ou ligada a uma espiritualidade e religião. Tenho uma identidade divina, e o divino é mistério! Tão próximo e ao mesmo tempo, tão distante… A minha identidade, definitivamente, é mais conhecida por Deus do que por mim mesmo.

Então fiquei pensando… Quando Jesus assumiu meus pecados e escolheu morrer na cruz, Ele tinha plena consciência da sua condição divina e se esvaziou dessa condição. Quanto mais eu devo me esvaziar daquilo que penso ser minha condição, minha identidade, para ir ao encontro do outro.

Estou dizendo tudo isso porque, infelizmente, tenho percebido que a questão da identidade tem sido uma justificativa para se negar ao relacionamento com o diferente: “Precisamos fortalecer nossa identidade para nos relacionar com cristãos de outras igrejas!”

Isso pra mim não faz mais sentido! Penso que minha verdadeira identidade não seja fortalecida de fora pra dentro. Não é estando próximo de pessoas que encontrarei quem verdadeiramente sou. Não quero dizer com tudo isso que não exista diferença entre mim, católico, e um evangélico. Existe sim! Escolhas diferentes…

Eu faço escolhas e meu amigo evangélico também faz escolhas, mas nem eu nem ele escolhemos nossas identidades! Ela está lá, gravada no nosso coração e me parece que ela é uma só!

Dar passo rumo à unidade cristã é dar passo na confiança em Deus. Confiar que ao me esvaziar de mim para ir ao encontro do outro diferente, eu não perco minha identidade, mas a encontro! O caminho da unidade não é diferente do caminho da cruz! Devo perder minha vida para ganhá-la.

E minha identidade, profunda, só encontro no coração do Pai e ninguém é capaz de roubá-la de mim!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Seja fraco...

Como posso dar os primeiros passos para viver a unidade com os cristãos de outras igrejas?
Seja fraco como o menino Jesus na manjedoura...

sábado, 19 de julho de 2008

Aprendendo sobre o que mais importa...

Oi, irmãos!!

Sinto muitas saudades... sei que tenho estado ausente nas postagens do blog e mais ainda em um contato direto com vocês...

Mas da mesma forma, sinto-me unida a cada um, através do nosso desejo comum - realizar com a vida o desejo de Jesus: "que todos sejam um". O que tenho vivido é a experiência de que algo realmente importa mais do que as nossas diferenças teológicas, a nossa maneira de ir à Igreja, o "nome" que nos damos ...

A Comunidade está realizando, junto com o Pr. Silvestre , o MIR: "Mutirão Internacional Restaura-me" - durante dez dias, jovens de vários estados e países, alunos de diversos cursos e universidades, católicos, evangélicos, profissionais de várias áreas, estarão juntos, no combate à miséria em diferentes frentes de trabalho.

Aqui em São Paulo muitos vivem em situação de extrema pobreza... dos dias 23 de julho ao dia 03 de agosto, estaremos em 2 favelas: Taipas e Moinho - num movimento para envolver as crianças, reformar barracos, fazer limpeza nas casas e nas ruas, um mutirão de saúde e de conscientização de higiene e atendimento médico e odontológico... Faremos uma campanha de doação de sangue, conscientizando sobre o valor da vida e ressaltando que a união entre pessoas de diferentes crenças é para “que todos tenham vida, e vida em abundância”.

Mais do que tanto trabalho, o que me toca é que diante da necessidade do irmão que sofre, tudo o que é "diferença", fica em segundo plano!

O verdadeiro amor por Jesus, e a resposta aos Seus apelos por unidade começam nos gestos concretos (naquilo que é possível, e entre aqueles que Deus coloca no nosso lado... o nosso próximo!) , em especial no olhar ao pobre.

Fica também o convite! Quem sabe você não possa participar conosco, ou ainda, difundir essa idéia na cidade ou na região em que você está, evangeliza...

Que o Senhor nos instrua no amor e na unidade!!!!

terça-feira, 11 de março de 2008

Oração...

“Em verdade, em verdade, vos digo:
O que pedirdes ao Pai, Ele vos dará em meu nome.
Até agora, nada pedistes em meu nome;
Pedi e recebereis,
Para que a vossa alegria seja completa.”
(João 16, 23-24)


Já faz um bom tempo que tenho sentido a vontade de escrever algo sobre a oração constante que precisamos fazer em favor da unidade dos cristãos. Mas devo confessar que é com tristeza que escrevo esse texto, por que eu não sou um bom exemplo a seguir. A minha oração é muito fraca, e as vezes passo dias sem me lembrar desse chamado de lutar e orar pela unidade!

Mas gostaria que isso mudasse, com toda sinceridade do meu coração! Não dá mais pra falar de unidade confiando nos homens, não dá! Só Deus pode realizar esse sonho que está gravado no mais profundo da nossa essência, por isso devemos orar sem cessar para que nossos corações estejam abertos para acolher a concretização desse plano de amor.
.
Uma vez aprendi que a nossa oração não muda Deus! Ele é o mesmo desde sempre! O desejo de unidade habita em Seu coração desde toda eternidade... A oração muda a nós mesmos, assim nos tornamos solos férteis, onde a semente pode cair e germinar...

Mas o que é a oração?
Um suspiro elevado aos céus, como dizia Teresinha...
O meu convite, é que suspiremos todos os dias, pela unidade!
Que o clamor de Jesus, em João 17, se faça presente também nos nossos momentos de conversas com o Pai.
Que Ele nos instrua no amor e na unidade!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Lembranças que marcam

Ano passado fui a um congresso da ABU (aliança bíblica universitária) e fiquei surprendido com algumas conversas que tive. O legal foi perceber que isso me remeteu a um passado próximo que, por sua vez, me trouxe esperança em relação à unidade cristã que pode ser fortalecida através de nossas relações.

Um amigo da ABU de Juiz de Fora me falara de uma garota que tinha se convertido a Cristo através da ABU. Ela estava lá no congresso. O mais curioso: era católica e participava da ABU. Parece dissonante? Até pensei em escrever "era católica, mas participava da ABU". Esquecemos que a dissonância produz bons sons!

A partir dessa observação, passei a lembrar de irmãos católicos que de alguma forma colaboraram com algum trabalho protestante, sem perderem sua identidade e fé católica. Recordei-me de um irmão que conheci na ABU Viçosa, que era católico e participou conosco em cerca de 2 anos. Lembrei de uma estudante católica da UFV, que num acampamento dos jovens da presbiteriana de Viçosa, falou que era católica e que se sentia muito bem no nosso meio. Quando ela falou aquilo, as pessoas começaram a aplaudí-la com euforia. Percebi sinceridade.

E ontem, conversando com um amigo presbiteriano que foi num projeto missionário no nordeste, fiquei alegre em saber que o pároco da cidade ajudou no projeto, cedendo o salão paroquial e, surpreendentemente, chegou ao ponto de oferecer um almoço para os estudantes missionários do Projeto Água Viva.

O caminho da unidade é assim, simples. Caminhamos a passos curtos, porém, firmes. Na beleza da diferença encontramos o conforto que muitas vezes não encontramos nos iguais. E assim, nossa alma se une e conseqüentemente, se completa! Só o amor que é capaz de fazer isso. Ele supera o orgulho de pertecer a esta ou aquela igreja. Ele supera o medo, o temor de perder fiéis para o outro. O proselitismo perde para a cooperação.

E assim a gente vai: caminhando, refletindo e lembrando das coisas boas que Deus fez em prol da nossa unidade.

Ah, recordei-me também de um rapaz que foi no congresso missinário da ABU em 2006, com uma blusa de um Grupo de Oração Católico: caminhava com seu alforge pelo congresso a fora. Hoje, é meu grande amigo, o Renato. Caminhamos juntos.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Unidade na humanidade...

Quero partilhar com vocês um pouco do “novo entendimento” que tenho tido a cerca da unidade entre os cristãos...

No dia 17 de setembro do ano passado, postei um pequeno texto falando sobre a importância da confissão mútua dos pecados. Até então, eu tinha experimentado um pouco desse caminho, mas agora, quero retornar a esse tema depois de viver intensamente essa graça nos últimos dois meses.

“Muito devo melhorar na minha abertura de coração para o próximo!” Foi uma das frases finais do meu post e ainda hoje a tenho como uma verdade em minha vida. No entanto, pude experimentar de uma ação profunda de Deus nesses últimos meses quando me abri mais e confessei os meus pecados para outros cristãos.

Primeiro experimentei de uma dificuldade profunda pra contar meus segredos para alguém. Uma sensação muito ruim, parecia um medo misturado com orgulho e outras coisas que ainda não compreendo bem. Mas depois que o fiz, quanta paz eu ganhei no meu coração! Que sensação de amor tomou conta da minha vida!

Hoje sou uma pessoa mais calma e serena, desde que conversei com alguns amigos cristãos sobre as minhas dores mais profundas, os meus medos, os meus traumas, os meus pecados e os meus dons! Hoje me sinto mais unido a Cristo e consequentemente mais unido aos irmãos, e não somente a esses com os quais compartilhei minha vida.

Tenho entendido que quando crio um vínculo maior de amizade com alguém, o Corpo de Cristo, inteiramente, se beneficia dessa união! Da mesma forma quando quebro um vínculo de amizade, o Corpo também sofre as dores! Quando tenho uma vitória em Cristo, todos os membros são agraciados e quando peco, todos pecam comigo!

Dessa forma, estando mais unido aos irmãos pela graça que foi a confissão dos meus pecados para eles, tenho tido um motivo maior na minha busca de santidade. É uma certeza renovada no meu coração, de que todo o meu esforço em ser santo, reflete na busca desses que estão unidos a mim...

E como Deus tem confirmado essa verdade no meu coração! Dia após dia...

Depois que agi de tal forma, algumas pessoas têm me procurado sentindo uma necessidade de conversar sobre suas limitações. E tem sido muito bom pra o crescimento da minha fé e da unidade que sonho em viver com os irmãos em Cristo. De fato, quanto mais entro contato com a humanidade dos outros, mais me sinto parte do plano de Salvação de Deus.

Eu, como eles, formos salvos e precisamos viver como tais. E o Senhor, como Ele bem diz, dá sua graça presença àqueles que se unem em seu nome. O rosto do irmão é face de Deus, e é também fonte da sabedoria do amor divino que tanto carecemos.

Quanta libertação e cura estão na confissão mútua dos pecados e no reconhecimento da grande esperança plantada no coração dos cristãos! Quando assumo minha humanidade dou o outro a oportunidade de mostrar sua “divindade”. Ele me encoraja a continuar na luta, sofre comigo, manifesta a compaixão do próprio Cristo!

Essa é a unidade que tenho vivido e sonhado para todos nós cristãos!

Te agradeço Senhor, por colocar amigos tão humanos, e porque não dizer santos, à minha volta!
Obrigado por que o Senhor tem me instruído no caminho da unidade Contigo e com o próximo!
A Ti toda honra e glória!


“Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados.” (Tg 5, 16)

sábado, 17 de novembro de 2007

Distância


Ei meus caros e fraternos amigos em Cristo, em especial Renato e Gustavo. Após um tempo de ausência no blog, tenho descoberto a resposta para uma antiga e ao mesmo tempo recente dúvida. Como se viver algo que não se possui?

Isso é o que tenho vivenciado nesses meses distante de Viçosa, um celeiro do amor de Deus na vida e na comunhão entres estudantes universitários. Como posso viver o ecumenismo se nem mesmo relacionamentos aqui possuo, se tantos olhares e cumprimentos se perdem em meio ao ruído, correria e individualismo? E o que muitas vezes tenho de concreto é apenas a minha oração pessoal.

Não se trata de desanimar, mas sim de não ter como praticar o que foi aprendido e vivido em comunhão com tantos outros irmãos cristãos. Hoje quero dizer que estou unido a esta causa, mesmo que congelado, tendo apenas minha mente funcionando e intenções e sentimentos ainda quentes dentro de mim. Espero crescer ainda mais e aprender em breve a doce lição de se viver intensamente algo que ainda não se possui. Por hora, apenas tenho descoberto que o que foi aprendido não ficou em Viçosa, mas se mantêm aqui comigo, apenas espero reviver novamente essa tão bela diferença.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Buscar a unidade, um jeito de ser...

Tenho aprendido que pessoas diferentes, como nós somos, têm formas diferentes para compreender e viver o evangelho. Basta pensarmos no processo que acontece para se julgar alguma coisa, tudo depende da experiência particular de cada um, depende de como a moral individual é desenvolvida e sentida.

Na minha vida, de forma muito pessoal, tenho compreendido o evangelho na perspectiva da unidade. Buscá-la passa a se confundir com minha vontade de viver o evangelho e ser santo. Tenho “pagado” um certo preço por isso.

Um dos desafios desse caminho é almejar primeiramente uma unidade com Deus. Não é fácil reduzir a dissonância que existe entre o “meu querer” e o querer divino. Não é fácil controlar o meu desejo de controlar tudo! Confiar no Bom Deus e me abandonar em sua providência é uma luta!

Um outro desafio é o de viver a unidade comigo mesmo. Um auto-conhecimento profundo faz com que minha “parte ruim” e a “parte boa” se integrem e assim eu seja perfeitamente humano, não mais tão fragmentado! Esse conhecimento de minha essência faz com que eu tenha mais o que oferecer para o outro, compreendo a minha diferença e passo a usá-la.

Começo a enxergar que esse chamado de viver a unidade é muito mais profundo do que eu imaginava... Não se trata de uma especificidade ligada às diferenças cristãs, mas é um jeito de viver os ensinamentos de Cristo, um jeito de viver o céu na terra. Um jeito de ser o “amor” no coração da Igreja.

Ultimamente tenho sido muito apresentado às divisões da Igreja! E são muitas... Mas tenho tentado ter uma postura diferente do que estamos acostumados. Deixo-me primeiramente ser atingido por essas divisões. Reconheço que faço parte delas e procuro viver a unidade com Deus, comigo mesmo e então parto para uma atitude de unidade para com a Igreja.

Tento aproveitar dessas divisões pra levar a paz profunda de Jesus. Mas viver isso realmente não é fácil, pois existem algumas pessoas, às vezes por motivos desconhecidos, com quem não me sinto nenhum pouco à vontade para iniciar um diálogo. Talvez esse seja o maior desafio! Mas aí então conto com a graça de Deus...

Em determinados momentos preciso também ser humilde e reconhecer que tais situações não são da minha alçada. Deixo que Deus use dos seus insondáveis caminhos e resolva os problemas... Mas até chegar até a esse tipo de pensamento trato a situação difícil com a mesma importância que trato as outras e faço o mesmo caminho de reflexão que proponho para a vivência da unidade. Unidade com o Pai, Unidade comigo, Unidade com a Igreja.

Sinto que tenho muito o que aprender... Também sinto uma imensa gratidão por tudo que o Senhor tem feito em minha vida e por toda instrução paciente comigo. Agradeço ainda a cada amigo que tem permitido essa experiência de unidade em nossos relacionamentos. Conto com a importância de cada um para amadurecer nesse jeito de ser um...

sábado, 27 de outubro de 2007

Uma frase...

"A unidade não é promovida, mas possibilitada!"
(GRÜN, Anselm)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Pequena e profunda visita...

Nesse ultimo sábado visitei mais uma vez a IPV*.
Fui convidado pelo amigo Gustavo para um show do “Baixo e Voz”...
E novamente pude sentir como Deus fala através do simples:
Um baixo, uma voz e tanta profundidade...
Percebi que as pequenas coisas são mais difíceis de serem feitas, justamente por serem a base de tudo!
Foi um tempo curto, de 3 músicas apenas...
Mas suficiente para repensar meus sonhos e planos,
inclusive a unidade dos cristãos!
Clara e forte foi a voz do Senhor:
“Renato, seja mais sendo menos...”
.
*IPV - Igreja Presbiteriana de Viçosa

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mais um passo rumo à unidade...

“Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados.” (Tg 5, 16)

Tenho descoberto o quanto assumir as nossas limitações e pecados para o próximo pode ser um grande motivo de unidade.
E a unidade cura...
Quando o outro fala das suas dificuldades é mais fácil assimilar que ele é tão parecido comigo, que somos feitos da mesma matéria e criados pelo mesmo Deus!
Nesse confessar pecados também está um belo testemunho do perdão e da graça de Deus. Podemos perceber o quanto o outro e nós mesmos crescemos mesmo sendo tão miseráveis.
E aí temos mais uma oportunidade de assimilarmos a misericórdia na nossa vida!
Muito devo melhorar na minha abertura de coração para o próximo.
Que o Senhor me instrua e conceda sua graça!

domingo, 19 de agosto de 2007

Resposta aberta...

Recebi seu e-mail sobre a repercussão do documento divulgado pelo Vaticano esta semana...
Queria que, se você pudesse, de forma resumida, me contasse como o ecumenismo é na sua vida de forma prática, como você se coloca frente aos cristãos evangélicos, as diferenças etc...
Como é ver Cristo no próximo, que é evangélico e não vê Cristo em você que é católico?
(MARTA, Campos – RJ)


Oi Marta, a paz!
Louvo a Deus por essa inquietação no seu coração...
Acho que a primeira coisa que podemos fazer pra viver a unidade dos cristãos é não abafar esse incômodo que surge no nosso íntimo por causa da divisão da Igreja de Cristo. E devemos buscar respostas, como vc tem feito!
Falando um pouco da minha vivência...
Bom, eu não tenho me relacionado tanto com cristãos evangélicos que não enxergam Cristo em mim, não sei se conseguirei responder tão bem à sua pergunta.
Mas já aconteceram algumas situações em que o meu testemunho de experiência com Deus fez com que alguns evangélicos pensassem que eu fosse evangélico também, e quando descobriram que eu era católico, tiveram uma surpresa!
Penso que precisamos dar mais surpresas para os evangélicos, me entende?
Surpreende-los quando mostramos o nosso jeito de ser de Cristo, que é diferente, mas é real!
E sinceramente minha irmã, penso que a palavra fundamental é o amor...
Não vejo segredo, por mais que eu ainda não tenha me deparado com uma situação tão difícil.
Outra coisa, muitas vezes os evangélicos não reparam só no nosso relacionamento com eles, mas reparam como os católicos se relacionam com o mundo...
E nisso, nós precisamos confessar, temos errado muito, não é mesmo?
Já fui argüido algumas vezes sobre a “podridão” da Igreja Católica. Termo que alguns evangélicos usam.
Doeu o coração quando ouvi essa palavra tão forte, mas isso não é motivo pra que eu me desespere em defender com unhas e dentes o catolicismo sem respeitar, primeiramente, os meus irmãos evangélicos.
Precisamos estar cientes de que muitos deles passam a vida inteira ouvindo coisas negativas sobre os católicos. E não é de um dia para o outro que a visão deles vai mudar...
Por isso, Marta, o nosso testemunho católico na vivência de um cristianismo puro e simples é fundamental. Só assim é que, aos poucos, alguns evangélicos que têm uma imagem tão negativa dos católicos poderão quebrar certas barreiras.
O meu relacionamento com os evangélicos tem sido muito dialógico...
Ouço a opinião deles e procuro encontrar um espaço pra expor a minha opinião.
Lembrando que diálogo verdadeiro não tem o objetivo de convencer uma ou outra parte.
A verdade surge, justamente, quando colocamos nossas vidas uma ao lado da outra, sem a pretensão de se achar melhor que o outro.
Bom, se um evangélico tentar te convencer que vc não é de Cristo, peça-o uma oportunidade pra dizer como vc se relaciona com Deus no dia-a-dia...
Me lembrei de um caso...
Em uma das viagens que fiz (BH-Viçosa), certa vez vim sentado ao lado de um menino muito legal.
Conversamos sobre de onde éramos e o que iríamos fazer em Viçosa.
Ele era cantor de BH e tava indo pra Viçosa fazer um show...
Eu era cantor de Sete Lagoas e tava indo pra Viçosa, pra depois pegar um ônibus pra Ubá, pra depois pegar um ônibus pra Divinésia, pra cantar apenas uma música lá.
Mas percebendo que ele era diferente, perguntei que tipo de música ele cantava...
Disse-me que era evangélico da Assembléia de Deus e que cantava músicas de Adoração. Perguntou se poderia cantar uma música pra mim e eu disse: “Claro!”...
Cantou lindamente, dentro do ônibus. Com certeza outras pessoas ouviram...
Eu disse que também cantava pra Deus, mas que era católico, e ele não pediu pra eu cantar!
Mas continuamos a nossa conversa e agora com o foco na pessoa de Jesus Cristo. Percebi claramente como ele se surpreendeu quando eu falava de forma apaixonada sobre meu relacionamento com Deus...
Tenho quase certeza de que alguns pré-conceitos foram quebrados naquela hora tanto da parte dele, como da minha...
Pude perceber que deixar de usar bermudas tinha um sentido muito profundo pra ele. E como eu julgava os assembleianos por causa do jeito de vestir deles!
Trocamos telefones, mas infelizmente nunca mais entramos em contato...
Mas felizmente nunca me esquecerei do crescimento que tive com a companhia daquele garoto.
Bom Marta, não sei se consegui me fazer entendido...
Mas é isto que eu tinha pra te dizer: Testemunhe o seu jeito de ser de Cristo!
Que Deus abençoe a sua busca pela vivência da unidade!
Um abraço carinhoso,
Renato

*Essa pergunta da Marta foi enviada para meu e-mail pessoal, no entanto, tive sua permissão para postar a minha resposta aqui no Blog. Penso que essa é mais uma oportunidade de tesmunhar um pouco do que penso e experimento a cerca da unidade...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Resposta à carta aberta

Olá Renato. Peço perdão pela demora em responder. Tenho motivos para isso, ainda que sejam incompletos diante da urgência que esse assunto tem em nossa vida cristã. Bom, quero antes dizer dois motivos pelos quais adiei essa carta-aberta endereçada a você e nossos leitores.

Primeiramente, tive medo. Isso mesmo: medo. Não gostaria de usar os mesmos artifícios retóricos que os opositores da unidade utilizaram após a divulgação da noticia sobre a visão eclesiástica da Igreja Católica. Aliás, eles nunca estiveram tão satisfeitos como atualmente. Por isso, tive receio em usar dessa carta para defender meu lado e, portanto, ser de alguma forma injusto.

Em segundo lugar, fiquei muito triste pela posição oficial do Vaticano. Esperava mais. Pensava eu que nosso caminhar na Unidade seria suficiente para que a cúria romana nos enxergasse em pé de igualdade com os católicos. Engano meu.

Isso é normal. Expectativas mal cumpridas nos trazem decepções. Por alguns dias pensei em deixar essa de ecumenismo de lado. Pensei: “o que adianta eu reconhecê-los como irmãos sendo que somos considerados APENAS irmãos separados em comunidades eclesiais”?

E mais uma vez o amor vence o medo. A esperança subverte as expectativas. Se o Vaticano determinar que novamente somos hereges [1], minha luta pela unidade permanecerá. Ficarei nervoso, pensarei em desistir, discutirei com você, porém, no fim, a voz que ecoa no meu coração continuará a dizer: “assim como Eu e o Pai somos um, meu desejo é que vocês sejam um”.

Ai, como é difícil! Enquanto penso em elaborar esse parágrafo, vou me armando, buscando justificativas teológicas para provar que somos igualmente Igreja. Mas eu desisto. Quero que Cristo em mim e em nós, protestantes, mostre o contrário, assim como um dia deixamos de ser hereges, talvez, um dia, seremos considerados igualmente Igreja.

Para terminar, quero dizer que estou disposto a ser um com vocês, custe o que custar. Quando eu ver algum protestante falando mal de vocês, vou continuar a defender vocês. Que nosso amor mútuo constranja aqueles que opõem nossa unidade. Por isso amigo, não se preocupe: continuaremos juntos nessa caminhada, até que Ele venha.

Um abraço sincero,

Gustavo Bianch

[1] Até o concílio Vaticano II, o protestantismo era considerado heresia.