domingo, 19 de agosto de 2007

Resposta aberta...

Recebi seu e-mail sobre a repercussão do documento divulgado pelo Vaticano esta semana...
Queria que, se você pudesse, de forma resumida, me contasse como o ecumenismo é na sua vida de forma prática, como você se coloca frente aos cristãos evangélicos, as diferenças etc...
Como é ver Cristo no próximo, que é evangélico e não vê Cristo em você que é católico?
(MARTA, Campos – RJ)


Oi Marta, a paz!
Louvo a Deus por essa inquietação no seu coração...
Acho que a primeira coisa que podemos fazer pra viver a unidade dos cristãos é não abafar esse incômodo que surge no nosso íntimo por causa da divisão da Igreja de Cristo. E devemos buscar respostas, como vc tem feito!
Falando um pouco da minha vivência...
Bom, eu não tenho me relacionado tanto com cristãos evangélicos que não enxergam Cristo em mim, não sei se conseguirei responder tão bem à sua pergunta.
Mas já aconteceram algumas situações em que o meu testemunho de experiência com Deus fez com que alguns evangélicos pensassem que eu fosse evangélico também, e quando descobriram que eu era católico, tiveram uma surpresa!
Penso que precisamos dar mais surpresas para os evangélicos, me entende?
Surpreende-los quando mostramos o nosso jeito de ser de Cristo, que é diferente, mas é real!
E sinceramente minha irmã, penso que a palavra fundamental é o amor...
Não vejo segredo, por mais que eu ainda não tenha me deparado com uma situação tão difícil.
Outra coisa, muitas vezes os evangélicos não reparam só no nosso relacionamento com eles, mas reparam como os católicos se relacionam com o mundo...
E nisso, nós precisamos confessar, temos errado muito, não é mesmo?
Já fui argüido algumas vezes sobre a “podridão” da Igreja Católica. Termo que alguns evangélicos usam.
Doeu o coração quando ouvi essa palavra tão forte, mas isso não é motivo pra que eu me desespere em defender com unhas e dentes o catolicismo sem respeitar, primeiramente, os meus irmãos evangélicos.
Precisamos estar cientes de que muitos deles passam a vida inteira ouvindo coisas negativas sobre os católicos. E não é de um dia para o outro que a visão deles vai mudar...
Por isso, Marta, o nosso testemunho católico na vivência de um cristianismo puro e simples é fundamental. Só assim é que, aos poucos, alguns evangélicos que têm uma imagem tão negativa dos católicos poderão quebrar certas barreiras.
O meu relacionamento com os evangélicos tem sido muito dialógico...
Ouço a opinião deles e procuro encontrar um espaço pra expor a minha opinião.
Lembrando que diálogo verdadeiro não tem o objetivo de convencer uma ou outra parte.
A verdade surge, justamente, quando colocamos nossas vidas uma ao lado da outra, sem a pretensão de se achar melhor que o outro.
Bom, se um evangélico tentar te convencer que vc não é de Cristo, peça-o uma oportunidade pra dizer como vc se relaciona com Deus no dia-a-dia...
Me lembrei de um caso...
Em uma das viagens que fiz (BH-Viçosa), certa vez vim sentado ao lado de um menino muito legal.
Conversamos sobre de onde éramos e o que iríamos fazer em Viçosa.
Ele era cantor de BH e tava indo pra Viçosa fazer um show...
Eu era cantor de Sete Lagoas e tava indo pra Viçosa, pra depois pegar um ônibus pra Ubá, pra depois pegar um ônibus pra Divinésia, pra cantar apenas uma música lá.
Mas percebendo que ele era diferente, perguntei que tipo de música ele cantava...
Disse-me que era evangélico da Assembléia de Deus e que cantava músicas de Adoração. Perguntou se poderia cantar uma música pra mim e eu disse: “Claro!”...
Cantou lindamente, dentro do ônibus. Com certeza outras pessoas ouviram...
Eu disse que também cantava pra Deus, mas que era católico, e ele não pediu pra eu cantar!
Mas continuamos a nossa conversa e agora com o foco na pessoa de Jesus Cristo. Percebi claramente como ele se surpreendeu quando eu falava de forma apaixonada sobre meu relacionamento com Deus...
Tenho quase certeza de que alguns pré-conceitos foram quebrados naquela hora tanto da parte dele, como da minha...
Pude perceber que deixar de usar bermudas tinha um sentido muito profundo pra ele. E como eu julgava os assembleianos por causa do jeito de vestir deles!
Trocamos telefones, mas infelizmente nunca mais entramos em contato...
Mas felizmente nunca me esquecerei do crescimento que tive com a companhia daquele garoto.
Bom Marta, não sei se consegui me fazer entendido...
Mas é isto que eu tinha pra te dizer: Testemunhe o seu jeito de ser de Cristo!
Que Deus abençoe a sua busca pela vivência da unidade!
Um abraço carinhoso,
Renato

*Essa pergunta da Marta foi enviada para meu e-mail pessoal, no entanto, tive sua permissão para postar a minha resposta aqui no Blog. Penso que essa é mais uma oportunidade de tesmunhar um pouco do que penso e experimento a cerca da unidade...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Resposta à carta aberta

Olá Renato. Peço perdão pela demora em responder. Tenho motivos para isso, ainda que sejam incompletos diante da urgência que esse assunto tem em nossa vida cristã. Bom, quero antes dizer dois motivos pelos quais adiei essa carta-aberta endereçada a você e nossos leitores.

Primeiramente, tive medo. Isso mesmo: medo. Não gostaria de usar os mesmos artifícios retóricos que os opositores da unidade utilizaram após a divulgação da noticia sobre a visão eclesiástica da Igreja Católica. Aliás, eles nunca estiveram tão satisfeitos como atualmente. Por isso, tive receio em usar dessa carta para defender meu lado e, portanto, ser de alguma forma injusto.

Em segundo lugar, fiquei muito triste pela posição oficial do Vaticano. Esperava mais. Pensava eu que nosso caminhar na Unidade seria suficiente para que a cúria romana nos enxergasse em pé de igualdade com os católicos. Engano meu.

Isso é normal. Expectativas mal cumpridas nos trazem decepções. Por alguns dias pensei em deixar essa de ecumenismo de lado. Pensei: “o que adianta eu reconhecê-los como irmãos sendo que somos considerados APENAS irmãos separados em comunidades eclesiais”?

E mais uma vez o amor vence o medo. A esperança subverte as expectativas. Se o Vaticano determinar que novamente somos hereges [1], minha luta pela unidade permanecerá. Ficarei nervoso, pensarei em desistir, discutirei com você, porém, no fim, a voz que ecoa no meu coração continuará a dizer: “assim como Eu e o Pai somos um, meu desejo é que vocês sejam um”.

Ai, como é difícil! Enquanto penso em elaborar esse parágrafo, vou me armando, buscando justificativas teológicas para provar que somos igualmente Igreja. Mas eu desisto. Quero que Cristo em mim e em nós, protestantes, mostre o contrário, assim como um dia deixamos de ser hereges, talvez, um dia, seremos considerados igualmente Igreja.

Para terminar, quero dizer que estou disposto a ser um com vocês, custe o que custar. Quando eu ver algum protestante falando mal de vocês, vou continuar a defender vocês. Que nosso amor mútuo constranja aqueles que opõem nossa unidade. Por isso amigo, não se preocupe: continuaremos juntos nessa caminhada, até que Ele venha.

Um abraço sincero,

Gustavo Bianch

[1] Até o concílio Vaticano II, o protestantismo era considerado heresia.