terça-feira, 24 de março de 2009

Perdendo a identidade? (continuação...)

Resolvi continuar este post pra tentar esclarecer um pouco mais essa questão da identidade nos grupos cristãos. Sinto que por conta de estar muito próximo dos meus sentimentos e pensamentos do fim de semana, meu texto ficou mais emotivo do que explicativo, e vou tentar outra vez…

Compreendo o comentário da Glauce quando ela explica que muitas vezes usa o argumento da identidade católica não como uma coisa negativa, mas como uma forma de dizer que somos diferentes, temos um jeito próprio de rezar, e temos doutrinas diferentes… isso está muito certo! O meu objetivo não é desprezar ou minimizar as nossas diferenças, pelo contrário, quero exaltá-las, mas de uma forma extremamente positiva. Me lembro das palavras de João Paulo II:

Por que o Espírito Santo permitiu todas estas divisões?”, mesmo admitindo que um dos fatores pode ter sido os nossos pecados, digo assim: “Não poderia ser também que as divisões tenham sido um caminho que levou e leva a Igreja a descobrir as múltiplas riquezas contidas no Evangelho de Cristo e na redenção operada por Cristo? Talvez tais riquezas não pudessem vir à luz de maneira diferente…


Estudando o conceito de identidade nas ciências sociais, encontrei uma definição que me chamou a atenção. A identidade de um individuo é construída a partir de uma oposição simbólica. Isso quer dizer que muitas vezes sabemos mais do que não somos, do que o que realmente somos. Nos identificamos, enquanto grupos sociais, a partir da negação de outros grupos. Por exemplo, se me perguntam o que é ser urbano, eu logo penso na negação do rural. Mas o que de fato é ser urbano e o que de fato é ser rural é bem complexo, e por isso merece um estudo científico.

Fico pensando que no meio cristão carregamos conosco essa “mania” de nos identificar a partir da negação do outro. “O que é ser católico?, alguém pode dizer: “É não ser evangélico!”. Sei que a resposta está muito incompleta, mas é bem isso que acontece no nosso dia a dia. Não questionamos as respostas que obtemos por aí. Vamos guardando, juntando um emaranhado de coisas que depois nem sabemos pra que servem.

Somos diferentes sim! Católicos, Evangélicos, Pequena Via, Pastorais, RCC, Protestantes… Mas acredito que a construção da nossa verdadeira identidade depende da nossa abertura ao relacionamento com o diferente. Não somos grupos que estão em disputa e precisam demarcar um território. Somos grupos que se complementam e que fazem parte do mesmo Corpo. Sinto que quando me perguntarem sobre a minha identidade no Corpo será muito pouco se eu responder que sou “Pequena Via”, por exemplo. Posso lembrar das palavras do meu amigo Thiago quando falava que, através dos irmãos de comunidade, ele se sentia cantor, pintor, do social mesmo não “sendo” nada disso!

E aí, qual é minha identidade enquanto cristão? Seguindo a linha de raciocínio do Thiago, eu não poderei dizer que sou evangélico, mesmo sendo católico?

Gostaria de deixar claro que sei bem da realidade do povo de Deus. É um povo ferido, marcado com as manchas das divisões ocorridas no passado. Sei do medo desse povo, sei do mundo representado na cabeça de cada um para se auto-legitimarem na sua identidade católica ou evangélica, ou de algum grupo específico na Igreja.

A minha tentativa com esses questionamentos é de contribuir para uma base filosófica e teológica mais acessível e mais sólida no que se refere à unidade cristã, ou ecumenismo. Com a ajuda da minha amiga Glauce posso concluir que o que não concordo e acho que merece questionamento é o termo identidade ser usado para justificar o nosso medo ou fechamento em nos relacionar! Lembro novamente da frase que tenho ouvido e que me levou a este questinoamento:“Precisamos fortalecer nossa identidade para nos relacionar com o diferente!”

Mesmo com as limitações das palavras e da minha capacidade de usá-las espero ter me feito entendido! Que o Senhor nos instrua no amor e na unidade! Sempre…

Um comentário:

Tábata Mori disse...

Olás queridos amigos,

Renato, é verdade que a identidade pode ser descrita em relação ao oposto, mas também é verdade que a identidade se dá no e por causa do coletivo. Eu não tenho identidade sozinho, porque o que sou depende de um outro estar próximo de mim. e isso é lindo!

Como cristãos, não temos identidade individual, somos vários, mas somos um. Se reconhecermos que nossa identidade vem, principalmente, de Cristo, veremos que somos muito mais semelhantes (católicos e protestantes e cristãos em geral) do que diferentes.

beijos e que Deus nos abençoe!