sexta-feira, 19 de junho de 2009

Uma reflexão

Olá meus amigos, tudo bem? Depois de uma sumida, a saudade desse blog me fez hoje deixar aqui uma reflexão do cardeal José Saraiva Martins, no contexto da semana da oração pela unidade dos cristãos (ano 2003). Um texto um pouco antigo, mas muito atual, pois a busca da unidade em Deus sempre será um desafio e uma vontade que transporá todos os tempos.

Frente a todas as dificuldades dos tempos que vivemos, creio que um dos antídotos para os problemas da humanidade seja a busca pelo ecumenismo verdadeiro. O cardeal vê
o ecumenismo não como um acessório, uma questão mais ou menos importante, mas um dever urgente de todos os cristãos. Antes de deixar este mundo, Jesus pediu ao Pai "que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti" (Jo 17, 21). A unidade pedida por Cristo para os seus discípulos constitui uma participação na unidade existente entre o Pai e o Filho: "Como Tu estás em mim e Eu em ti"; uma reprodução ou, se quisermos, um reflexo visível da própria unidade trinitária. É por esta unidade do seu Corpo místico que Cristo se oferece a si mesmo "em sacrifício" (cf. Jo 13, 1).

Devemos realçar o fato de que Jesus pede o dom da unidade não só para os discípulos que se sentam à mesa com Ele, para celebrar a Páscoa, mas "também para todos os que acreditarem em mim, depois de terem escutado a sua palavra" (Jo 17, 20) e, mediante o batismo, formarem ao longo dos séculos o seu Corpo terrestre, que é a Igreja. Ele deu a sua vida por eles e por todos. Com efeito, morreu para "reunir os filhos dispersos" (Jo 11, 52). E estes filhos dispersos eu entendia como sendo todos os descrentes da graça do Pai, mas hoje passo a acreditar que somos os primeiros a nos incluir neste rebanho (católicos e protestantes), visto que o rebanho é disperso, havendo a necessidade para o cristão de acolher, respeitar e amar aquilo que lhe é diferente, assim como Jesus fazia com todos.


Isto não se trata de uma proposta utópica de unir os diferentes, de acordo com o cardeal, o compromisso ecumênico é uma tarefa irrenunciável, que pertence a todos os batizados. Obviamente, cada um segundo o papel, o carisma e a competência que lhe são próprios.


“Senhor, tomai conta de nossas atitudes e nos dê coerência em nossas ações. Que a busca do semelhante entre católicos e protestantes seja uma fonte viva do teu evangelho e uma forma de nos voltarmos para este mundo de tantos problemas e desilusões. A evangelização necessita da unidade, e que ela seja mais real no dia de hoje com a Tua benção sobre todos os protestantes que levam o amor a lugares que nós católicos não temos acesso, e que o mesmo aconteça conosco, pois assim tenho fé de que o desejo de amor trazido por Jesus possui mais sentido.”


Nos guarde neste caminho


Amém

terça-feira, 24 de março de 2009

Perdendo a identidade? (continuação...)

Resolvi continuar este post pra tentar esclarecer um pouco mais essa questão da identidade nos grupos cristãos. Sinto que por conta de estar muito próximo dos meus sentimentos e pensamentos do fim de semana, meu texto ficou mais emotivo do que explicativo, e vou tentar outra vez…

Compreendo o comentário da Glauce quando ela explica que muitas vezes usa o argumento da identidade católica não como uma coisa negativa, mas como uma forma de dizer que somos diferentes, temos um jeito próprio de rezar, e temos doutrinas diferentes… isso está muito certo! O meu objetivo não é desprezar ou minimizar as nossas diferenças, pelo contrário, quero exaltá-las, mas de uma forma extremamente positiva. Me lembro das palavras de João Paulo II:

Por que o Espírito Santo permitiu todas estas divisões?”, mesmo admitindo que um dos fatores pode ter sido os nossos pecados, digo assim: “Não poderia ser também que as divisões tenham sido um caminho que levou e leva a Igreja a descobrir as múltiplas riquezas contidas no Evangelho de Cristo e na redenção operada por Cristo? Talvez tais riquezas não pudessem vir à luz de maneira diferente…


Estudando o conceito de identidade nas ciências sociais, encontrei uma definição que me chamou a atenção. A identidade de um individuo é construída a partir de uma oposição simbólica. Isso quer dizer que muitas vezes sabemos mais do que não somos, do que o que realmente somos. Nos identificamos, enquanto grupos sociais, a partir da negação de outros grupos. Por exemplo, se me perguntam o que é ser urbano, eu logo penso na negação do rural. Mas o que de fato é ser urbano e o que de fato é ser rural é bem complexo, e por isso merece um estudo científico.

Fico pensando que no meio cristão carregamos conosco essa “mania” de nos identificar a partir da negação do outro. “O que é ser católico?, alguém pode dizer: “É não ser evangélico!”. Sei que a resposta está muito incompleta, mas é bem isso que acontece no nosso dia a dia. Não questionamos as respostas que obtemos por aí. Vamos guardando, juntando um emaranhado de coisas que depois nem sabemos pra que servem.

Somos diferentes sim! Católicos, Evangélicos, Pequena Via, Pastorais, RCC, Protestantes… Mas acredito que a construção da nossa verdadeira identidade depende da nossa abertura ao relacionamento com o diferente. Não somos grupos que estão em disputa e precisam demarcar um território. Somos grupos que se complementam e que fazem parte do mesmo Corpo. Sinto que quando me perguntarem sobre a minha identidade no Corpo será muito pouco se eu responder que sou “Pequena Via”, por exemplo. Posso lembrar das palavras do meu amigo Thiago quando falava que, através dos irmãos de comunidade, ele se sentia cantor, pintor, do social mesmo não “sendo” nada disso!

E aí, qual é minha identidade enquanto cristão? Seguindo a linha de raciocínio do Thiago, eu não poderei dizer que sou evangélico, mesmo sendo católico?

Gostaria de deixar claro que sei bem da realidade do povo de Deus. É um povo ferido, marcado com as manchas das divisões ocorridas no passado. Sei do medo desse povo, sei do mundo representado na cabeça de cada um para se auto-legitimarem na sua identidade católica ou evangélica, ou de algum grupo específico na Igreja.

A minha tentativa com esses questionamentos é de contribuir para uma base filosófica e teológica mais acessível e mais sólida no que se refere à unidade cristã, ou ecumenismo. Com a ajuda da minha amiga Glauce posso concluir que o que não concordo e acho que merece questionamento é o termo identidade ser usado para justificar o nosso medo ou fechamento em nos relacionar! Lembro novamente da frase que tenho ouvido e que me levou a este questinoamento:“Precisamos fortalecer nossa identidade para nos relacionar com o diferente!”

Mesmo com as limitações das palavras e da minha capacidade de usá-las espero ter me feito entendido! Que o Senhor nos instrua no amor e na unidade! Sempre…

Perdendo a identidade?

É no mínimo interessante como criamos jargões e os assumimos com força de verdade absoluta em nossas vidas!

Nessa caminhada rumo à unidade cristã eu sempre encontro pessoas que me dizem: “Precisamos nos relacionar com os cristãos de outras denominações, mas não podemos perder nossa identidade!”. É claro, eu sempre concordo com eles quando não sou eu que digo essa frase antes deles.

Nesse ultimo fim de semana a Palavra de Deus me levou a questionar esse jargão que já estava enraizado, me levou a quebrar certas estruturas em favor do outro, diferente, tão filho de Deus quanto eu!

“Ele tinha condição divina e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Fil 2, 6-7)

De fato tenho uma identidade gravada no meu íntimo mais íntimo. Outro fato é que não posso me referir a essa identidade como sendo católica, evangélica ou ligada a uma espiritualidade e religião. Tenho uma identidade divina, e o divino é mistério! Tão próximo e ao mesmo tempo, tão distante… A minha identidade, definitivamente, é mais conhecida por Deus do que por mim mesmo.

Então fiquei pensando… Quando Jesus assumiu meus pecados e escolheu morrer na cruz, Ele tinha plena consciência da sua condição divina e se esvaziou dessa condição. Quanto mais eu devo me esvaziar daquilo que penso ser minha condição, minha identidade, para ir ao encontro do outro.

Estou dizendo tudo isso porque, infelizmente, tenho percebido que a questão da identidade tem sido uma justificativa para se negar ao relacionamento com o diferente: “Precisamos fortalecer nossa identidade para nos relacionar com cristãos de outras igrejas!”

Isso pra mim não faz mais sentido! Penso que minha verdadeira identidade não seja fortalecida de fora pra dentro. Não é estando próximo de pessoas que encontrarei quem verdadeiramente sou. Não quero dizer com tudo isso que não exista diferença entre mim, católico, e um evangélico. Existe sim! Escolhas diferentes…

Eu faço escolhas e meu amigo evangélico também faz escolhas, mas nem eu nem ele escolhemos nossas identidades! Ela está lá, gravada no nosso coração e me parece que ela é uma só!

Dar passo rumo à unidade cristã é dar passo na confiança em Deus. Confiar que ao me esvaziar de mim para ir ao encontro do outro diferente, eu não perco minha identidade, mas a encontro! O caminho da unidade não é diferente do caminho da cruz! Devo perder minha vida para ganhá-la.

E minha identidade, profunda, só encontro no coração do Pai e ninguém é capaz de roubá-la de mim!